A Missa do Galo
Na noite de breu do meu Alentejo, quando o Natal se
avizinhava e o 24 de dezembro caminhava, horas tardias, para a Missa do Galo,
havia no ar fumo e cheiro a azinho queimado nas lareiras e o agradável odor do
azeite a fritar as filhós e as azevias.
De vez em quando, das pedras da rua, chegavam-nos passos
apressados de bota alentejana cardada a caminho do aconchego da lareira. Da porta da rua vislumbravam-se,
ao fundo da rua, os vultos envoltos em capotes e samarras de pele de raposa.
Noite dentro, meia-noite nascida, a igreja acolhia o ritual
da Missa do Galo e beijava-se a imagem do Menino Jesus.
O presépio era construído, semanas antes, com o mais belo
musgo das pedreiras da ribeira do Mato
Brito que a meninada da catequese recolhia com o ânimo e a alegria de
operários que recolhem os elementos e os materiais para a construção do mundo
da sua imaginação: o presépio da igreja da aldeia, com todas as figuras a que
tinha direito, segundo os cânones de então.
Volto sempre ao Natal da minha aldeia.
Por vezes recordando, mas volto sempre, que essa é a grande
capacidade da nossa imaginação: voltar sempre ao lugar da nossa felicidade que
é quase sempre o lugar onde fomos meninos. (p.45)
Porfírio, Manuel, (2016).30 Contos de Réis e outras histórias. Lisboa: Edições Colibri
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